É ingenuidade pensar que toda prática disciplinar suscita conformidade. Quando criamos e estabelecemos normas visando a dar direcionamento a uma conduta no cotidiano escolar, muitas vezes somos surpreendidos com desdobramos não esperados. Estes desdobramentos são o elemento criativo dos sujeitos que resistem quando, de alguma forma, se sentem incomodados com as normas impostas pelas autoridades.
Veremos neste capítulo que a indisciplina acontecia fora e também dentro do Liceu do Ceará, apesar da austeridade disciplinar aplicada no Estabelecimento especificamente durante o Estado Novo. Alguns relatos insistem em afirmar que dentro do Colégio não era cometida nenhuma indisciplina, dando a impressão de que havia dois liceus: dentro dele a disciplina teria o efeito esperado como se este espaço fosse imune a qualquer atitude reprovável, mas fora, longe dos equipamentos do disciplinamento estava, o espaço onde os alunos aproveitavam para cometer todo tipo de indisciplina. Aquele “espaço sagrado”, porém, dentro do Liceu, era “profanado”, principalmente quando falhava a vigilância, seja por sua eventual ausência ou pelo fato de ignorar ou de fazer vista grossa diante das indisciplinas para não causar conflitos ou para poupar “os infratores” de rigorosas penalidades.
Mostraremos que não é possível atribuir às indisciplinas cometidas por alunos e professores apenas um motivo, como, por exemplo, a insatisfação com o autoritarismo aplicado durante o Estado Novo. Além disso, os alunos cometiam indisciplina: em contestação diante do autoritarismo dos professores, por interesse em envolver-se nos momentos políticos da Cidade, por uma disposição para a gozação, pela rivalidade entre alunos de escolas diferentes, pelo enfraquecimento do vínculo moral, pelo peso dos estudos e pela força atrativa da diversão, pela hostilidade aos estrangeiros alinhados ao países do Eixo ou rebeldia sem causa ou como uma forma de iniciar os alunos e professores novatos no clima de camaradagem.
Por essas razões é que aconteciam, dentro o fora do Liceu do Ceará, nos anos de 1937 a 1945, as fugas, a participação em passeatas e protestos, a depredação de bondes, os trotes, os apelidos, as pichações nos banheiros, as piadas envolvendo alunos e professores, as brigas entre alunos de vários estabelecimentos, a falsificação de identidade, a freqüência inapropriada a ambientes de diversão, a embriaguez, a obscenidade e a bagunça.
No final deste capítulo, trataremos um pouco daqueles professores relacionados como próximos aos alunos e, portanto, queridos por eles. Coincidentemente, estiveram estes professores envolvidos em histórias de indisciplina, fugindo algumas vezes do cumprimento das regras, o que mostra que a disciplina aplicada naquela época não era seguida à risca também pelos professores.
segunda-feira, janeiro 15, 2007
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