Neste capítulo, trataremos das práticas de disciplinamento adotadas no Liceu do Ceará durante o período de 1937 a 1945. Estes anos são lembrados como um tempo de muito rigor na disciplina, no entanto, sabemos que este aspecto da vida escolar no estabelecimento já era tratado com austeridade em períodos anteriores, tendo em vista o bom regime das aulas.
No período estudado, vimos a adoção de vários mecanismos disciplinares, todos numa perspectiva preventiva: a vigilância, a preferência por penalidades menores – como a advertência e a suspensão – e a autoridade dos professores baseada na cordialidade com os alunos, o controle da direção do Liceu sobre os movimentos estudantis e os mecanismos de premiação e distinção.
Na tarefa da vigilância sobre os alunos e professores, destacavam-se o diretor, Otávio Terceiro de Farias, e o inspetor-chefe de alunos, João Pedro da Silveira, justamente os primeiros responsáveis pela disciplina no Liceu do Ceará. A ação destes, auxiliados por outros inspetores de alunos, professores e até alunos, por meio de movimentos estudantis, como o Batalhão Escolar, criado em 1937, conforme recomendação do então Interventor Federal no Ceará Menezes Pimentel, dava-se no início das aulas, acompanhando a entrada de alunos e durante o horário de aula, especialmente nos intervalos e no recreio. A fiscalização podia ir além dos muros do Liceu, na Cidade, desde que o aluno fosse identificado, usando a farda ou por meio da carteirinha de identidade estudantil.
Aos movimentos estudantis, com o golpe de 1937, recomendava-se evitar atividades de cunho político. A reunião de jovens liceístas não era proibida, mas o controle sobre estes por parte da Direção era certo, visando a preservar o respeito à autoridade. Em vez de promover discussões políticas, o que na época era sinônimo de instabilidade, estimulava-se uma formação literária ou militarista. De certa forma, estes movimentos colaboravam com o trabalho disciplinar da direção, participando da vigilância ou preparando os alunos para os eventos cívicos.
Em se tratando de penalidades, lançava-se mão daquelas mais leves, que, por sua vez, poderiam ser amenizadas quando o aluno tinha bons precedentes: desempenho intelectual satisfatório e comportamento exemplar.
A cordialidade entre alunos e professores aproximava-os, tornando-se um dos mecanismos mais eficientes no sentido de evitar a indisciplina, principalmente no Estabelecimento.
Os mecanismos disciplinares de premiação ou distinção como o direito de integrar o quadro de honra, receber o título de Panteão, ser dispensado de taxas ou ocupar os primeiros lugares na sala de aulas eram recursos reeditados nos anos 1937 a 1945, dentro de um perspectiva preventiva da disciplina.No final deste capítulo, refletiremos sobre o sentido das práticas do disciplinamento, entendendo que o rigor da disciplina não pode ser atribuído apenas ao momento político instaurado, mas ao esforço de manter a tradição do Liceu do Ceará que era ser uma instituição a projetar líderes em vários campos de atuação da vida local, nacional e até internacional.
segunda-feira, janeiro 15, 2007
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